Eduardo Barroso Neto é brasileiro e viajou até Portugal para conhecer os bordados tradicionais desse município português.
A cidade de Castelo Branco, localizada na região Centro de Portugal, vai entregar em junho um dossier à UNESCO no âmbito da sua candidatura à Cidade Criativa do Artesanato e das Artes Populares, por meio dos “Bordados Tradicionais”.
Com o intuito de fortalecer esta iniciativa, que pretende reforçar o “posicionamento de Castelo Branco no mapa mundo no que diz respeito ao bordado da região e às potencialidades de desenvolvimento económico do concelho através da criatividade”, as autoridades governamentais locais realizaram o primeiro Encontro Internacional de Cidades Criativas, entre os dias 12 e 15 de abril, nas instalações do Centro Cultural de Castelo Branco, que reuniu dezenas de participantes, incluindo especialistas e responsáveis de diversas cidades do mundo, como Brasil, Espanha e Cabo Verde.
Um dos participantes foi Eduardo Barroso Neto, que, além de consultor na área de “Economia Criativa e Design”, é especialista em processos a submeter à UNESCO no âmbito das Cidades Criativas. À nossa reportagem, este responsável, que já viveu e trabalhou na Suíça, disse que o município português tem condições de receber uma resposta positiva por parte da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
“Acho que o mais importante que a gente viu é a consistência, a importância do bordado de Castelo Branco, uma tradição de quase três séculos e que permanece. Não é uma atividade que está circunscrita a museus. É uma atividade viva, tem pessoas que vivem disso e é um ativo turístico importante, principalmente na economia da experiência”, destacou Eduardo Barroso Neto, que mencionou que “um dos objetivos da rede da UNESCO é a partilha das melhores práticas”, o que, ainda segundo Eduardo, “já está em processo em Castelo Branco, através da proposta de se criar um acordo de cooperação entre as cidades que visitaram este município”.
Numa das suas passagens pela Europa, Eduardo Barroso Neto estudou e trabalhou em Lausanne, cidade no Lago Genebra, na região de língua francesa de Vaud, na Suíça.
“A minha formação é em Design Industrial, mas acabei por me especializar em Design Urbano, fiz mestrado em Lausanne nessa área e tive a oportunidade de trabalhar para a municipalidade local, implementando alguns projetos imobiliários urbanos, alguns projetos na área da cultura. Isso tudo são experiências que consolidam um caminho profissional. Um trabalho junto da prefeitura de Lausanne, durante seis meses, no final do meu mestrado, e isso parece que deixou marcas na autarquia loca. Pois fui o primeiro designer contratado, o que abriu caminhos para que demais oportunidades surgissem. E, dessa forma, a minha contratação e as experiências que vivemos contribuíram para que a minha profissão, design, cada vez mais fosse valorizada e compreendida como indispensável no desenvolvimento urbano”, afirmou Eduardo Barroso Neto.
Este profissional surge nesse processo num momento importante para Portugal. Eduardo guarda no currículo dossiers aprovados pela UNESCO que distinguiram territórios como Cidades Criativas em várias vertentes.
“Desde que teve início a Rede Mundial de Cidades Criativas, eu tenho colaborado bastante para a sua consolidação, não só no Brasil, mas em toda América Latina, impulsionando candidaturas que foram vitoriosas, na sua maioria. Começando por Florianópolis, no Sul do Brasil, que entrou para a Rede como Cidade da Gastronomia. Depois, João Pessoa, que é Cidade do Artesanato. Na sequência, Fortaleza, que entrou como Cidade do Design e, depois, Campina Grande, que entrou como Cidade Mediática. Atualmente, atuo para ajudar Penedo a entrar para a Rede como Cidade do Cinema. Estas são experiências exitosas, que demonstram que a Rede é um processo irreversível que só tende a crescer e a se consolidar”, mencionou Eduardo.
Nas últimas semanas, em solo português, além de recordar o seu passado no país helvético, Eduardo Barroso Neto avaliou a importância do processo de candidatura de Castelo Branco à UNESCO.
“Durante o encontro em Castelo Branco, propostas surgiram, ideias surgiram. Ganhar o selo da UNESCO não é simplesmente ganhar um selo de distinção turística. É mais do que isso! É o compromisso da cidade em cooperar com as demais e promover o desenvolvimento sustentável, onde a cultura fica no centro deste desenvolvimento. (…) O que torna esses territórios tão interessantes é a preservação das identidades culturais, mas, também, a diversidade. Cidades que tenham uma forte identidade, mas que são recetivas à entrada de outras culturas, mas, sobretudo, esse entrelaçamento que faz parte dessa dinâmica e vitalidade cultural. Isto é o mais importante”, assinalou este especialista.
Por fim, este consultor falou sobre o que um território necessita para ser reconhecido pela UNESCO.
“Acho que, em primeiro lugar, precisa levantar a sua vitalidade cultural, os seus ativos culturais. Aquilo que uma localidade fez de mais relevante nos últimos anos, as expressões mais vivas e autênticas dos territórios. Mas, mais do que isso, um projeto de futuro, um projeto que seja inovador, impactante e partilhável com as demais cidades da rede mundial da UNESCO. É por aí que as coisas acontecem. Esta visão de futuro partilhada com a população, construída de forma democrática e participativa”, atestou Eduardo Barroso Neto.